Líder da RENAMO insiste na necessidade de uma desmobilização condigna das células armadas do partido. Ossufo Momade exige a integração dos seus correligionários nos serviços de inteligência moçambicanos.
O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) defendeu que a desmobilização dos homens armados do partido é uma prioridade, mas exigirá paciência e atenção. Ossufo Momade visita a Holanda, onde, segundo um comunicado emitido na quarta-feira (04.12), "busca parcerias". No texto, também alerta que "a democracia se encontra ameaçada" em Moçambique e que o país corre "risco de regressão".
Momade disse que as células militarizadas da RENAMO permanecem nas bases porque a desmobilização é um processo que deve decorrer de forma condigna. "O nosso desmobilizado deve voltar para casa com dignidade", destacou. Ele insistiu que os seus homens devem estar enquadrados em todos os ramos das Forças de Defesa e Segurança, inclusive no Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE).
"É lá [no SISE] onde são feitas as manobras que desestabilizam o país: casos de perseguições de membros dos partidos políticos, da sociedade civil, manobras eleitorais, entre outras", disse.
A RENAMO endurece o discurso no momento em que espera o acórdão do Conselho Constitucional de Moçambique sobre os resultados das eleições gerais, que deverá ser proferido nos próximos dias. O partido alega que o pleito teve fraudes generalizadas.
O líder da RENAMO distancia-se dos ataques na região centro do país, que já fizeram pelo menos 10 mortos desde agosto. Ele tem acusado a autoproclamada "Junta Militar" de estar por trás da violência. Por outro lado, o Governo defende que não existem duas RENAMOs - uma dirigida por Ossufo Momade e outra pela "Junta Militar".
Nova versão de um impasse?
O analista político Fernando Lima acha que a intenção da RENAMO de se distanciar da autoria dos ataques e a insistência da FRELIMO em culpar o partido da oposição levam a atrasos na resolução da crise. Para ele, como ocorreu no passado, esse ruído deve ser resolvido para o sucesso do processo de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração das forças residuais da RENAMO, o chamado DDR.
"Numa situação de ataques nas estradas e quando as forças de manutenção da lei e da ordem têm um papel importante a desempenhar em todo o DDR, é natural que haja contratempos, que haja incompreensões, que causem naturalmente os atrasos que se estão a verificar", opina o analista.
Lima acha que é um exagero considerar que o cenário seja de "impasse" e que a insistência de Momade pela "desmobilização condigna" deve ser vista dentro de um contexto.
"Há claramente um mal-estar decorrente das eleições gerais não só do 'score' eleitoral da RENAMO, mas também das várias irregularidades grosseiras que aconteceram durante as eleições. Portanto, isto tem impacto na RENAMO e é natural que o partido endureça as suas posições em relação a outros assuntos."
O analista considera surpreendente que a integração dos integrantes da RENAMO ao SISE tenha sido de algum modo "congelado" e não tenha feito parte do acordo de paz que Momade celebrou com o Presidente Filipe Nyusi.
"Ter esta oportunidade, não resolver esta questão e, a posteriori, vir a levantá-la… Compreendo o porquê, mas isto deveria estar claramente explanado nos acordos de agosto."
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