“Estamos todos com medo. Ninguém sabe o que pode
acontecer nas próximas horas”. Estas são as palavras de um residente da vila de
Palma, sede do distrito com mesmo nome, na província de Cabo Delgado, que
aceitou falar à nossa reportagem, acerca do momento pelo qual a província está
a passar, com o escalar da violência.
“A situação não está boa. Aqui todos os dias há tiroteio.
Muita gente inocente está a perder a vida. Outros estão a ser espancados,
quando são encontrados pelo caminho. Outros estão a ser dados tiros”, contou a
fonte.
Segundo a fonte, nesta quarta-feira, houve disparos
contra um autocarro, que leva trabalhadores para a Península de Afungi, onde
estão a ser desenvolvidos projectos de exploração de gás natural do Rovuma,
liderados pela Total.
Conforme conta, tudo começou quando o referido autocarro
ultrapassou uma viatura, num local onde havia um blindado (numa das bermas),
com armas apontadas para estrada, o que precipitou os disparos, protagonizados
pelas Forças de Defesa e Segurança. A fonte afirma que não se registou vítimas
mortais, apenas danos materiais, pois, os vidros do autocarro ficaram
totalmente quebrados. Garantiu ainda que o condutor do autocarro terá
apresentado queixa no Posto Policial local.
Segundo a fonte, até às 19:00 horas, as pessoas são
proibidas de circular naquela vila-sede que, há oito anos, era o destino
preferencial de quase todos os cidadãos do país, devido à implementação dos
projectos de prospecção do gás natural. Fala de uma reunião secreta entre os
líderes locais e o Comandante Operacional das FDS destacado para aquele
distrito, em que foi decidido que não será tolerada a circulação depois das
19:00 horas.
Outra fonte descreve episódios tenebrosos, com os
militares a submeterem os cidadãos a tratamentos desumanos sem nenhuma
explicação. Conta a história de um jovem comerciante (vende mandioca frita) que
terá sido baleado, depois de os militares lhe terem perguntado sobre a
identidade das pessoas com quem estava a conversar.
“Três pessoas estiveram a comprar coisas como jovem e, de
repente, apareceram militares que começaram a perseguir essas pessoas. As
pessoas fugiram e depois perguntaram ao jovem se conhecia aqueles senhores e o
que vinham fazer. Ele respondeu que não os conheciam e que estavam a comprar
mandioca. Um militar ligou a pedir que trouxessem um carro para levar o jovem,
mas este tentou fugir e foi aí que dispararam contra ele. Perdeu a vida no hospital”,
narra a fonte.

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