E ao segundo e último dia da estada de Beatriz Buchili,
Procuradora-Geral da República, na Assembleia da República, veio o veredicto
sobre o caso do antigo Ministro das Finanças, Manuel Chang.
Manuel Chang deve ser extraditado para Moçambique e tudo
quanto se pagou ou se está a pagar à firma que representa o Estado moçambicano
nos Tribunais sul-africanos não pode ser reduzido a uma mera quantificação
económica e imediata. Quem assim sentenciou foi Beatriz Buchili, quando
respondia às questões levantadas pelos deputados.
A guardiã da legalidade disse que o caso Manuel Chang é
do interesse do Estado, daí que esforços não serão medidos para que ele seja
responsabilizado em solo pátrio, em virtude de ser a peça-chave. Manuel Chang,
vincou Buchili, para além de elemento essencial para o esclarecimento do caso
das “dívidas ocultas”, permitirá, em simultâneo, a reparação dos danos causados
ao Estado moçambicano que estão muito acima dos valores pagos à firma de
advogados contratada.
“Trata-se de uma causa do interesse do Estado que não
pode ser reduzida à mera quantificação económica e imediata, pois, impõe-se a
realização da justiça, um bem supremo da nossa sociedade. Nós, como Ministério
Público, continuaremos a envidar esforços para que Manuel Chang seja
extraditado para Moçambique para o esclarecimento da dívida pública. Manuel
Chang afigura-se elemento essencial para o esclarecimento das diversas questões
suscitadas e que, ao mesmo tempo, implicará a reparação dos danos causados ao
Estado moçambicano que se mostra, de longe, superiores a quaisquer honorários
pagos aos advogados”, disse Buchili.
Entretanto, a PGR avançou que não se iria pronunciar
sobre a legalidade dos contratos, tal como pretenderam saber os deputados.
Sobre este aspecto, Buchili afirmou que cabia às entidades competentes na
matéria de fiscalização dos contratos, sua eficácia e eficiência, emitir o
competente pronunciamento, sendo que farão em tempo oportuno e nos termos da
lei.
Adiante, a Procuradora-Geral da República reiterou que,
para além de Moçambique, não há outra jurisdição competente para
responsabilizar o antigo Ministro das Finanças. A extradição de Manuel Chang
para os EUA, tal como defendem alguns círculos de opinião, culminará, tal como
disse, com a absolvição deste, pois, aquela jurisdição mostrou-se incompetente
para o julgamento do caso das “dívidas ocultas”, figurando o desfecho do
julgamento de Jean Boustani um exemplo inequívoco.
Esta quinta-feira, Buchili reiterou a falta de
colaboração dos EUA, realidade que, segundo disse, está a comprometer a
celeridade processual, visto que esta jurisdição teima em não responder às cartas
rogatórias de Moçambique, no âmbito da cooperação jurídica e judiciária
internacional.
Num outro desenvolvimento, a PGR criticou o que chamou de
“falta de coerência” de alguns activistas moçambicanos. Buchili disse ser
“curioso que tenhamos activistas moçambicanos que se manifestam aqui e, mais
estranho ainda, em outras jurisdições a favor de uma ou outra decisão das
autoridades daquele país e nada fazem, por exemplo, para persuadir aqueles
países a cooperarem com as autoridades moçambicanas nos termos das leis e
convenções internacionais. Será que o interesse destes compatriotas é mesmo ver
esclarecido o caso e ver o Estado moçambicano ressarcido? Ademais, estes mesmos
compatriotas não são capazes de fazer a mesma pressão aos países, em que
solicitamos informações, há sensivelmente dois anos, para alimentar os
processos em curso nas nossas instituições judiciárias, garantindo desta forma
a celeridade e justiça que todos clamamos”.
Fonte: Cartamz.com
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